MEU PEQUENO FLASH-BACK DE LEITOR
Eu comecei a pensar sobre minhas memórias de leitor. Tristemente em meus períodos de escola, eu não recordei quase nada, principalmente dos primeiros anos. Mas o que aflorou em minha memória foram os causos que o meu pai contava na calada da noite, alguns eram de terror, geralmente de cavaleiros viajantes, fantasmas, e muitos deles causavam medo. Mesmo assim eu sentava no assoalho e ouvia tudo atentamente.
Também sempre via meu pai lendo a Bíblia e isso me chamava a atenção. Algumas vezes até pedia para ele ler algumas parábolas para mim. E cada vez me interessava mais por essas histórias. Pena que minha convivência com ele foi pequena, mas certamente com grandes marcas. Já a minha mãe era uma contadora de piadas e de histórias acontecidas na sua infância. Sempre pedia para que ela relatasse isso, pois as suas travessuras me interessavam muito.
E assim adentrei no mundo da leitura, primeiramente ouvindo, queria ler livros, porém não tinha acesso, nem na escola. Só que muito cedo fiz uma assinatura de uma revistinha católica, por um preço bem acessível, da qual não me recordo o nome. E eu lia do início ao fim sem pular nenhuma página. Nela eu encontrava o relato da vida de alguns santos e de pessoas.
Depois, já na adolescência emprestava livros de uma amiga: romances da Sabrina, Julia, etc. Ah, como era bom ler. Eu adorava, embora lesse às escondidas de minha mãe, que desaprovava as leituras de tais romances achando que poderiam ocasionar más atitudes. Às vezes pegava os gibis do tio patinhas que meus irmãos conseguiam emprestados e lia com muito afinco. Também me recordo vagamente de alguns textos do livro didático.
Mesmo depois, já cursando o magistério, vem à tona em minha lembrança, apenas gramática, nas aulas de português. Tristemente eram aulas chatas e pouco proveitosas, muita decoreba e nada mais. Mas eu sempre emprestava livros que me interessavam e lia: contos de fadas, Alice no país das maravilhas, O pequeno príncipe, livros de Monteiro Lobato, Willian Shakespeare e outros.
Mas as coisas acontecem de forma maravilhosa, e aos dezoito anos eu comecei a lecionar. Então tinha mais acesso a livros e à biblioteca. Então eu viajava com várias histórias como: A vaca voadora de Edy Lima, Metamorfose de Franz Kafka, Bisa Bia Bisa Bel de Ana Maria Machado, e outros. Eu lia para poder falar deles aos meus alunos, também porque adorava ler.
Antes do vestibular li alguns clássicos solicitados, outros li apenas o resumo e eram livros de uma linguagem mais rebuscada e, na maioria das vezes, tinha muita dificuldade para entendê-los.
Já na faculdade li alguns livros solicitados e alguns marcaram bastante, como “O moço loiro” de Camilo Castelo Branco. Esse eu gostei muito, tive que fazer um amplo trabalho para apresentar para a turma. Adorei ler os clássicos da literatura inglesa. Entre os que lembro: O retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, O velho e o mar de Ernest Hemingway, Moby Dick de Herman Melville.
Aos poucos fui lendo vários clássicos e muitos deles eram bem chatos, como “Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa”. Eu lia e relia e não entendia nada. Várias vezes deixei em um canto, porém era um trabalho e eu tinha que me virar e fazer. Então li outros exemplares que explicavam tal livro. Assim eu consegui ler tudo e entender mais a riqueza que é tal obra. Diante desta lembrança, vejo a fundamental importância da intervenção do professor de fazer um trabalho junto aos alunos de leitura, compreensão e discussão. Pois como professora quero deixar lembranças prazerosas em meus alunos, leio bastante para eles e com eles, indico livros e muitas vezes já presenciei os frutos. Certamente deixarei recordações felizes e bem diferentes das que eu tive.
E assim fui trilhando meu caminho de leitor, sem perceber este meu processo. Sempre releio os clássicos de Machado de Assis, Eça de Queirós, Aluízio Azevedo, Euclides da Cunha e tantos outros. E a leitura flui diferente do que a primeira vez lida. Nesta segunda leitura sempre descubro detalhes a mais.
Atualmente, me considero leitora. Pois amo ler e só não o faço mais por falta de tempo. Leio desde os best sellers até livros de auto-ajuda. Adoro ler os contos de Moacyr Scliar, Leo Cunha, crônicas do Fernando Veríssimo, etc. O livro é meu amigo fiel, aonde eu vou ele vai também. Leio todos, nunca deixo um livro pela metade. Leio e vou preenchendo o meu passaporte. Só não gosto ser incomodada em minhas leituras, é como se eu entrasse no enredo e tivesse vivendo a história.
E assim fui me formando leitora, na escola, algumas poucas recordações, talvez em casa muito mais e na universidade. Porém sou uma leitora voraz. E como é fascinante viajar e aprender com os livros, para tantos lugares e situações diferentes.
Eliane Rufino dos Santos Sitorski